Caro Guilherme,
.
Recebi há poucos dias as minhas primeiras saudações de 'Bem vindo ao Brasil'! Que imensa é a alegria que inunda o meu espírito por estar aqui nessas terras tão longínquas! Mesmo diante da tão imensa dor de deixar para trás o doce campo alemão e a sua companhia amável, Guilherme, que sempre esteve ao meu lado, sinto que este lugar me acolhe e ordena o meu espírito de uma maneira tão mágica, que não restam mais mágoas na vida. Aproveitarei o presente, e que os mortos enterrem os seus mortos. Passado fica pro passado, e daqui em diante buscarei me renovar em nobreza e virtude.

Para tal missão, que campo fértil de sabedoria encontro esculpido nas paisagens e na personalidade desse tão afável e simples povo! Enche-me de esperança e de vida! Ah, se eu tivesse o mesmo engenho destas puras almas! Leves, carinhosas, e sensíveis. Que alegria!

Diante de tão poderosa inspiração, ando já com grandes progressos no aprendizado do português aqui no Rio de Janeiro! Parece que tudo fica tão fácil quando, já na minha breve estadia, compreendo que não é só do paraíso terrestre que vive o espírito desse berço da mais fina personalidade humana. Já me questiono as vezes se os anjos não invejam viver a realidade material só para explorarem as maravilhas dos altos picos da Pedra da Gávea e dos Dois Irmãos como os homens, mas ainda há aqui algo mais elevado que isso! É a imaginação desse povo!

Se se desejaria especular se é a imaginação que instala o homem na realidade, prova-se isso com a sabedoria musical dos antigos cariocas. Até me esqueço da minha terra natal, e até de ti - por breves momentos, quando passo horas trabalhando em meu novo quarto com vista ao Pão de Açúcar e imerso nas melodias do velho Ernesto Nazareth. Descobri ele por engano ao pesquisar sobre a história de um teatro peculiar - que também encontrei por engano. Que maravilhosa música! Consigo imaginar perfeitamente o puro espírito das serenas ruas do Rio Antigo! De fato, sem a imaginação, o homem viveria como uma amoeba: incapaz do mais mínimo vislumbre das coisas mais elevadas. Guilherme, espero que um dia você possa experimentar estas mesmas coisas.

 

Abraço,
Werther